Dancemos as danças dos loucos
girando cirandas e aos poucos
cairemos na própia loucura
quebrando as cabeças, fraturas
que sempre estiveram presentes
fantasmas, flagelos dormentes.
Pisemos nas poças mais sujas
girando, e o dançar sobrepuja
camisas de força dos homens
tão sérios, maduros que somem
na massa de peso do mundo,
seremos melhores, vagabundos.
Dancemos a própria desgraça
tampemos com grades, mordaças
correntes de riso, cantemos
matemos o iso e seremos
os lobos nos campos gelados
caçando na noite, indomados.
Na dor, choremos tão perto
na dor abraçados, cobertos
na força das unhas que entrando
na pele e na carne passando
rompendo pedaços de nós
sabendo que estamos tão sós.
No peso do mundo riremos
tentando tampar em um esmo
que tanto de corda nos dá,
porém, nem sabemos se há
motivo que cause os efeitos
de tantos tormentos no peito.
Que gritem e chorem e dancem,
se somos as vitimas, dane-se.
As chagas, os sóbrios nos dão
culpados de tudo que são.
Vaguemos perdidos em ordas
banidos, bonecos sem cordas.
Vaguemos: os quadros manchados,
meninos selvagens e os ratos,
romances violados, senhores
de mundos sonhados, horrores
em traumas, uns tais esquecidos,
mendigos.Em suma, os feridos.
Pois, todas as chagas que temos,
que deixam sequelas profundas,
é culpa dos sóbrios, na imunda maldade dos termos.