terça-feira, 13 de agosto de 2013

Passageira Sombria




Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida; há palavras de morte
Há palavras imensas que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras noturnas e palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes, palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos conosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais: só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Presente?



Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu ando

decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava Não
nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco-íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe essa cidade futura
onde a poesia não mais ritmará a ação
porque caminhará adiante dela
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa e não me olhas como se olha uma bruxa
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se

não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal.