quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ópio

Eu tento rir. Dos meus erros e das coisas fúteis que ocorrem. Mas não é sempre tão fácil. Eu me irrito com essa fragilidade. Com esse desejo de ter tudo e a realidade de nada ter. Nadando em poças de água. Tentando chegar ao outro lado do manguezal. Deitado no meio de uma plantação de papoulas; ópio em meu ser. A solidão a caminhar comigo, lado a lado, como fôssemos velhas amigas. E somos. Como vai? Vou bem, respondo-lhe. Passou muito tempo desde que a encontrei; a rir de mim, enquanto caminhava chutando as pedras em meu caminho. Buscando respostas para aquilo que eu nem sabia o que era, ou se foi um dia. Eu não sei o que me fez e o que me faz mal; apenas o que me faz bem. E eu sigo buscando cada vez mais o que me faz bem, sem saber onde encontrar. Talvez esteja em mim, ou no fundo de um copo de bebida — alguns dias até está — ou numa tarde qualquer a caminhar com o sol se pondo vermelho. Tranquilo e sereno. Como era para ser. Como fui chegar até aqui? Não me lembro. Bastou-me apenas uma escolha errada pra desencadear esse efeito dominó. A tarde se vai arredia, convidando a noite a chegar. E o ópio que me faz chegar até o outro lado daqueles muros já não me satisfaz. É preciso sempre mais. Sempre mais.