segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Decepção



Às vezes a vida nos apronta...
Então, ela chega bem ligeira
E quando menos se dá conta,
A decepção é a companheira.

Se instala pedindo licença,
Dizendo ser sábia conselheira.
Reavivando com sua presença
Velhas intuições bem certeiras.

Nos mostra que os desenganos
Permitimos quando carentes.
Sem olhar debaixo dos panos,
Nos deixamos levar pela corrente.

Quantas vezes antes dela chegar,
Sentimos que algo está errado.
Alguma coisa fora de lugar
Mas insistimos pondo de lado.

Assim, não é a vida que nos apronta
São os devaneios e a teia de ilusão
Permeados de desejo e ânsia tonta
Que abrem morada à decepção.

domingo, 28 de outubro de 2012

Em um só verso

Pesadelos de tempos apagados,
encobertos de tantos cobertores,
são batalhas com feras e horrores,
de milênios de prantos abafados,
e afogados nas ondas e na areia,
de centenas de metros que conservo,
sendo tudo esquecido em um só verso,
semeado em um trato que permeia.

Duas almas singelas e verdadeiras,

uma desejo, mas apenas observo,
serão sempre retidas em um só verso,
congeladas no fundo das minhas geleiras.

Fuligem


Fuligem cresce no peito. No meu peito.
E o céu no azul do horizonte se enfraquece,
a treva forma, por fim, a tempestade
sem chuva e vento num quadro que esvanece.

Saudades sinto de um mundo embalsamado
nos livros mortos, nos livros das estantes
no canto vago do quarto de dormir,
no vago tempo que lembro-me distante...

Fuligem cresce no peito, no meu peito.
E o vento sopra o meu rosto que tão pálido
só serve a um fátuo rapaz sem destino
que rege os sonhos, romances, livros tácitos!

Livros tácitos, sonhos e os romances,
mas quem me dera o segredo das pessoas...
Se caso houve-se, quem dera, minha chance
de um anjo enfim eu roubar do paraíso.

Fuligem cresce no peito, não falei?
E enfim só sei que em meu caso o meu remédio
é simples como um desenho de criança,
só uma moça tirar-me do tédio...

Mãos Cansadas

As minhas mãos cansadas,
de descrever as coisas,
só querem ser mais reais.

As minhas mãos exaustas,
querem tocar sua boca,
querem ser mais... normais.

Pois só descrevem coisas,
e letras não são reais,
são coisas fantasiadas.

As minhas mãos cansadas,
odeiam viver de estórias,
querem ser mais... iguais.

A vida tão merencória,
daqueles que nas letras
morrem sem mais nem menos.

As minhas mãos, ao menos,
querem ter a notória
sina de serem mais.

Querem tocar sua boca,
não descreverem coisas,
querem beijar... seus dedos.

Fábula

Olha o mundo num olhar tão distante...
Sonha alto como um pássaro preso,
em gaiola num abismo profundo
com o céu lá alumiando em desprezo.

Olha as nuvens navegando letargas,
tais gigantes de existência tão breve
já viveram mais da vida e do mundo
que o perdido em gaiola não vive...

Olha estrelas lá brilhando no alto,
são as alminhas penduradas no breu.
Porém delas ele entende, compreende
pois no abismo também se perdeu...

Ele assiste cá de baixo as estrelas...
Elas assistem lá do alto o perdido...
Como espelho que quebrado em pedaços
tem mil olhos por luzir refletidos...

Ele as ama por saber, na empatia,
do que passam. E as estrelas também,
pois são ambos nesse mundo pregados,
lá fardados a existir sem ninguém...

A assistir um universo completo
a dançar... Por dançar em suas frentes
se mostrando colorido e diverso
fractal tão natural e demente...

Nos opostos de seus mundos vigentes,
as estrelas e o perdido se vêem,
e bem sabem a que mundo pertencem
e se amam no fadar que contêm...

Como eu cá contigo minha amiga,
eu te amo por saber... por passar...
Por problemas qu'eu também fui conter,
mas não sei se no fundo seu olhar...

Bem... É como  do perdido e as estrelas:
Que no fim, é só um maluco a sonhar
ser amado por um mundo distante
só de hélio incandescente a queimar!


(Só porque aprendi a rimar!)

Despertar


Um talo não há de me despertar

Já que alguém apareceu ofertando Jazz.

Acabou a vertigem de bondade


E a desgraça virou encanto.

Dois anjos tortos em mendicância


Tentando reparar uma velha vitrola.

E adianta um milhão de palavras

Que levam do vazio ao perdido?

Tive medo de algo inevitável,

De tempo impreciso,

Que vaga nas cabeças falantes.

E que lhes foi ofertado sem mediocridade

No cigarro compartilhado à distância

Na risada à mesa do mar.

O resto...

Ah!

É dor espetada na ponta do anzol!