Ao longo da muralha que habitamos Há palavras de vida; há palavras de morte Há palavras imensas que esperam por nós E outras frágeis, que deixaram de esperar Há palavras acesas como barcos E há palavras homens, palavras que guardam O seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras,surdamente, As mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras noturnas e palavras gemidos Palavras que nos sobem ilegíveis à boca Palavras diamantes, palavras nunca escritas Palavras impossíveis de escrever Por não termos conosco cordas de violinos Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar E os braços dos amantes escrevem muito alto Muito além da azul onde oxidados morrem Palavras maternais: só sombra só soluço Só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Não adoro o passado não sou três vezes mestre não combinei nada com as furnas não é para isso que eu ando decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava Não nenhuma palavra está completa nem mesmo em alemão que as tem tão grandes assim também eu nunca te direi o que sei a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo como o outro: sei que não sei nada sei muito bem que soube sempre umas coisas que isso pesa que lanço os turbilhões e vejo o arco-íris acreditando ser ele o agente supremo do coração do mundo vaso de liberdade expurgada do menstruo rosa viva diante dos nossos olhos Ainda longe essa cidade futura onde a poesia não mais ritmará a ação porque caminhará adiante dela Os pregadores de morte vão acabar? Os segadores do amor vão acabar? A tortura dos olhos vai acabar? Passa-me então aquele canivete porque há imenso que começar a podar passa e não me olhas como se olha uma bruxa detentor do milagre da verdade a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma nada está escrito afinal.