domingo, 27 de março de 2016

Psicossomática

Seu coração é terreno hostil
Preso no cárcere da ilusão
Destituída de lógica 
Órfã desde o primeiro pôr-do-sol,
E bipolar as sextas-feiras.

Desperta-te do sono anárquico,
baluarte desfigurado e caótico.
Basta de apenas sobreviver: viva!

Dorsos

todos os corações do mundo
e nenhum me atiça
feito o teu

os sonhos, gostos
os dorsos nus
as peles à prova
nada é tão convidativo
como o teu eu

a noite longa e quente
com seus pecados inomináveis
a vida em ritos, práticas
e o pouco do mundo é meu desejo:
ser tão sua, sua
mil vezes meu sabor no teu seu
tão seu

Então?

o que você está esperando
para o teu fim do mundo desaguar
no meu colo?

o que está sonhando?
cobiçando?
fazer agora da minha pele a tua
do sentimento
um esconderijo
o que você está esperando
para sermos mar e praia?

luar e romance
a imensidão num instante
calor e desejo aceso

o que você está pensando
se a tua ideia
não sai de mim
nem por decreto?

o que você está pensando?
pensando
pensando
há terra à vista, 

onde quer que esteja
meu peito é ventre
e te carrega tão bem.

Culpado?

um dia assim
de mal-me-quer ou indiferença
a culpa é do amor: ele omite
ou esconde
o melhor do irrefutável
quem vai derrubar
a última lágrima?
ou dizer as palavras 
mais inspiradoras
- quem sabe em coracão estrangeiro?
a culpa é do amor
que dá de ombros e vai embora
- somos tão imperfeitas! 
dias de luto também têm o céu azul
prossigamos pela terra corrompida
com seus homens egoístas
e pequenas principesas de lama
enquanto o amor escorre
no licor das imperfeições, verso rude
amor que anoitece e faz-se alvorada
o cântico dos malditos
e o resto é um cigarro aceso
tragado pelos intervalos
da dor

Estranho Amor

e eu te amo
pelas ausências, o calor do corpo
que não sinto
meu amor pela ausência
é te procurar no silêncio, nos espaços vazios
nos poemas que não te declamei
amar-te é procurar pelas mensagens que não chegam
os encontros que não acontecem
a intimidade de mundo algum
nenhuma voz ao telefone
nenhum e-mail convidativo
torpedo nenhum!
a chama do meu amor é voluntária
e não te pede nada mas cobiça 
cobiça loucamente
desejo e lascívia em vão
por um sentimento permanente